quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O pulo do Gato

Esse texto recebi por e-mail achei legal e resolvi compartilhar.

O pulo do gato
Autor Fátima Almeida
A senadora Marina Silva seguiu a trilha aberta por Chico Mendes que vai dar nos circuitos ambientalistas internacionais, recebendo vários prêmios e homenagens mundo afora como ocorreu com o Chico Mendes no começo da sua escalada.

Ambos têm em comum a mesma origem. Participaram da fundação do Partido dos Trabalhadores que só chegou ao poder com o lançamento de jovens candidatos oriundos de famílias de alta posição, da classe dos seringalistas e/ou políticos tradicionais. De um lado, o partido utilizou-se das velhas práticas de aquisição de votos, de outro colocou no terceiro escalão as lideranças do movimento social, para efeito de legitimação, nos governos que então se sucederam.

O anúncio da saída de Marina Silva do PT para se candidatar à Presidência da República pelo PV me pareceu um xeque mate no ex-governador Jorge Vianna, pois, como foi bastante propalada, existia a expectativa do mesmo chegar à presidência. Ele seguiu o curso costumeiro ou tradi-cional de ascensão dentro do partido. Mas a Marina Silva deu o pulo do gato.

Todo acreano tem medo de onça, todo acreano sabe que de uma onça ferida ninguém consegue escapar. E Marina Silva disse em entrevista que se sentia como uma onça ferida após os golpes desfechados pelo governo Lula na política ambiental do país culminando com sua demissão do Ministério do Meio Ambiente. Parecia que o Governo tinha se utilizado da Marina Silva para compor a base de legi-timação formada por aqueles que vêm de baixo como o próprio presidente e que depois a teria descartado sem a menor cerimônia e sem nenhum tato. Mas não foi isso que aconteceu.

A passagem de Marina Silva por um Ministério que não opera com vultosas verbas foi uma longa aprendizagem e ao mesmo tempo uma porta escancarada para o mundo sob a égide das organizações não-governamentais, articuladas muito além das fronteiras. O Greenpeace, por exemplo, conseguiu junto aos bancos e países estrangeiros a restrição a financiamentos e comercializações de empresas e produtos que causam danos ambientais no Brasil. As ações e mobilizações da OnG’s têm sido mais eficientes e conseqüentes do que as ações dos partidos e respectivos políticos, perdidos no jogo do poder sem atentar para as grandes transformações que estão ocorrendo no planeta.

Jorge Vianna que mobilizou capitais para as obras de grande ponte tais como pontes, duplicação de avenidas, via verde, estádio, transoceânica entre outras, perdeu, em um só lance no tabuleiro do xadrez, a sua posição de rei. A Rainha simplesmente negou-se a correr de casa em casa, nas horizontais, nas verticais e nas diagonais em função de proteger o Rei. Ela percebeu que o Rei, no tabuleiro do xadrez, tem pouca mobilidade, que os bispos se movimentam somente na diagonal, os militares somente em linhas retas e os peões só se deslocam para morrer mais na frente. E que ela, a Rainha é a única que transita por todas as direções e sem restrições de mobilidade.

Por analogia pressupomos que Jorge Viana restrito ao cenário de obras grandiosas via empreiteiras, tendo o estímulo à construção civil como marca de seu governo e visão de desenvolvimento, parece não ter se dado conta da mudança de paradigma que está acontecendo, quando no mundo inteiro políticos e cientistas estão escrevendo e publicando artigos, dando entrevistas, pressionando governos junto com as mais variadas organizações e imprensa especializada, estando na ordem do dia o aquecimento global e as mudanças climáticas. Sendo essa a principal demanda por uma nova postura de políticos em toda a Terra. Mesmo tendo realizado o zoneamento econômico e ecológico para o Estado, mesmo sendo o Acre o Estado com melhor desempenho relativo entre os da região em termos de proteção ambiental.

A Marina Silva, por sua vez, mesmo sendo do mesmo partido, passou ao largo dessa visão desen-volvimentista, jamais colocando a sua imagem ao lado de empreiteiras. Além disso, ela não pertence às famílias tradicionais, não tem lastro com as elites locais muito menos necessidade de manter as velhas práticas de aparelhamentos. Quaisquer estudiosos em História têm a capacidade de compreender que o Acre construiu seu aparelho de Estado sob a égide da Ditadura Militar seguindo a cultura política do resto do país no sentido de um Estado Patrimonialista que é o conceito que se dá a situação típica de se utilizar os recursos públicos em função de interesses particulares. Como se vê, ainda hoje, ocorrendo no Senado.

Marina Silva que cresceu nesse nicho expandiu a consciência na compreensão de que a questão ambiental é econômica e social e ultrapassa os particularismos locais e regionais. Está apoiada nas ONGs que constituem hoje a ponta de lança nesse processo de mobilização mundial em torno das questões vitais de sobrevivência do planeta. Devem existem equívocos, é claro, mas não estamos falando de santidades e sim de mudanças nas práticas políticas e nos modelos de gestão.

De mais a mais os partidos não constituem mais referência nenhuma para o eleitor brasileiro que está cansado dessa condenação diária de assistir nos noticiários sucessivos escândalos no tocante à malversação de recursos públicos de forma generalizada. A possibilidade de Marina Silva chegar à Presidência da República é real. “Governabilidade” é apenas um meio de se favorecer a corrupção generalizada. O país passou do estágio em que uma redução nos danos ambientais seria satis-fatória, o país precisa mesmo é de freio. Mesmo porque o que causa degradação ambiental, a concentração de capitais nas mãos de poucos a par com a sofreguidão e irres-ponsabilidade para com os recursos naturais, no Brasil é histórica e constitui a indústria da exclusão social que coloca a todos sob risco.

De mais a mais ninguém precisa se preocupar já que governar não tem mistério. Lula provou isso. A diferença é que Marina Silva está preparada para fazer frente às demandas nacionais e mundiais, vitais, muito mais prementes do que os corredores de exportação. E não vai contemporizar. Poderá ser a primeira mulher a chegar à Presidência, só depende de nós.

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